Conchita Brennand é um ser especialíssimo, raro em sua arte intocada. Da sua mente novos seres tomam forma, livres de qualquer enquadramento trazido pela razão. Há mais de cinco décadas a sua arte brota em meio as maravilhas do bairro da Várzea, onde ela viveu por vários anos com seu irmão artista, Francisco Brennand.
Uma explosão de cores, símbolos e miragens. Um mundo exótico e poético. O ambiente tropical das matas e do Rio Capibaribe, com seus lagos, açudes e aguadas, e uma natureza viva, com troncos e galhos, folhas e frutos sustentam o olhar de Conchita. “O espírito da mata se revela em tudo. Nas figuras sensuais, nos animais fantásticos e na flora. Das raízes às folhas, que se constitui em tramas, malhas e tecidos que envolvem seus tantos corações abertos para o mundo”, destaca o curador da sua primeira individual, Raul Córdula.
Mesmo vivendo com arte por mais de oito décadas, Conchita Brennand se manteve longe do público, guardando consigo preciosidades. Em janeiro de 2018, ela realiza a sua primeira exposição individual na Arte Plural Galeria. “O Prazer do olhar” apresenta uma produção com cerca de 30 trabalhos em papel canson, utilizando Posca; e também alguns em cerâmica. A curadoria de Raul Córdula tem a missão especialíssima de reunir o universo dessa artista incrível.
“Os sonhos, seu verdadeiro território, seu domínio, se revelam nas concepções que, caóticas embora, são como mapas sem pontos cardeais. Texturas aveludadas rompidas por fortes traços como marcas de machados na árvore. Por se apegarem aos sonhos não quer dizer que sejam narrações, histórias, ilustrações gráficas da realidade. São, como qualquer obra de arte, símbolos em si, índices de seu imaginário, ícones elementais, signos de prazer. O prazer do olhar”, revela Raul sobre a Mostra de Conchita.
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Conchita Brennand por Raul Córdula…
Há uma constante no mundo artístico desde a Renascença. Trata-se da produção de grandes personalidades que ofuscam com o poder de suas obras os artistas que os orbitam. Quantos artistas amigos de Picasso não ficaram à margem da história? Quantos alunos de Verocchio, em cuja oficina existia constantemente mais de duzentos aprendizes, foram ofuscados por seus dois discípulos principais: Da Vinci e Botticelli? Isto se repete sempre quando vemos artistas de talento que figuram na entourage das estrelas da arte.
Conchita Brennand é um exemplo interessante: irmã de Francisco Brennand — um dos mais importantes artistas do Brasil, não apenas pelo significado de sua obra, mas também pela grandiosidade numérica de seu trabalho, um orgulho de todos os pernambucanos —, ela não é devidamente reconhecida como a artista que é, dona de um talento e uma imaginação criativa como poucos são. Embora sendo esta grande senhora uma pessoa muito notória de minha geração, só vim conhecê-la recentemente e me surpreendi ao ver pela primeira vez a sua arte.
É claro que Conchita vê desde sempre o mesmo mundo de Francisco, participa da mesma história repleta de símbolos, sonhos e miragens que seu irmão mais velho, do ambiente tropical das matas da Várzea e do Capibaribe donde existem lagos, açudes e aguadas, dos animais — pássaros especialmente — em coreografias entre solos argilosos, troncos e galhos, folhas e frutos. Eis aí o ambiente que sugere o paraíso morno e eivado das cores extremas com que Conchita articula sua poética, desenha seu mundo sensual e concebe suas composições às vezes orgânicas, às vezes racionais.
O prazer do Olhar
- Arte Plural Galeria | R. da Moeda, 140 – Recife, PE – (81) 3424-4431
- Vernissage | 9 de janeiro de 2018 – 19h
- Exposição | 10 de janeiro a 2 de fevereiro de 2018