O carnaval não foi mais o mesmo desde que a artista gráfica Joana Lira imprimiu a sua arte nas ruas do Recife. Durante 10 anos ela criou e desenvolveu o projeto de cenografia e identidade visual da festa na cidade. “A minha relação emocional com o carnaval sempre foi muito forte. Quando criança, sentia um frio na barriga só de ver fitinhas coloridas serem penduradas pelas ruas. Fantasiada dos pés à cabeça, aprendi cedo a ser levada pela multidão no rabo de uma orquestra de frevo. Mas nunca imaginei um dia ser parte dos bastidores de uma festa dessa magnitude”, conta Joana.
Durante os anos de 2001 a 2011 Joana se juntou ao pai e arquiteto Carlos Augusto Lira, responsável pela cenografia dos carnavais recifense. O colorido das suas ilustrações, as referências aos homenageados e suas obras, os traços de visão fantástica do Armorial e do cordel. Tudo numa escala deslumbrante, resultou numa intervenção urbana aclamada por todo folião. “Vejo maracatus pulsantes, com suas indumentárias brilhantes e o manguebeat e suas derivações, que resultam no uso de cores luminosas, com contrastes violentos e inusitados. É nessa tradição que devemos ver o trabalho de Joana Lira. Na transposição daquela linguagem para a dimensão urbana”, afirma o designer Kiko Farkas.
“Joana Lira desenvolveu uma antropologia visual expressa por uma linha preta vazada receptiva, que possibilita a expansão de formas geométricas e cores vibrantes. Ao mesmo tempo, estão implícitas e explícitas relações de euforia, alegria e sensualidade presentes em seu trabalho. Falamos aqui em relações estéticas e de constituição do sujeito relacionados a cidade de Recife. Reconhecendo e revivendo raízes da cultura, além de promover uma nova educação estética pela sensibilização do olhar”, afirma Mamé Shimabukuro, curadora de sua exposição no Instituto Tomie Ohtake.
Algo impressionante se revela nas proporções gigantescas que sua cenografia ganha na escala urbana sem perder a riqueza de detalhes dos seus desenhos. A xilogravura, o Armorial, a arte popular, indígena e africana. Picasso, Matisse, Hundertwarsser, Keith Haring e Niki de Saint Phalle. “Dessa miscelânea surgiu a minha linguagem gráfica, com traços simplificados. Marcado por cores contrastantes, fortes, chapadas, bem delimitadas pela linha preta”, conta Joana.
Entre os traços e as cores de Joana Lira, tomam vida fortes manifestações da tradição do carnaval pernambucano. São maracatus nação e rural, com os orixás africanos, os cortejos de reis e rainhas de influências africanas e portuguesas. A origem indígena e os caboclos da mata com suas lanças e vestes largas, coloridas e brilhantes. São mangueboys, passistas de frevo, caboclinhos, cirandeiros, os bichos animados, a arte e os artistas da sua terra.
O que você encontrará neste post:
Outros Carnavais de Joana Lira
Em 2009 a artista e designer lança o livro Outros Carnavais – Nos bastidores da folia ou como o trabalho de cenografia surgiu, cresceu e apareceu na maior festa de rua do Recife. Um apanhado da produção de 2001 a 2008. Nele ela conta as inspirações, o processo de criação e o amadurecimento das etapas que vão desde o planejamento até a execução de toda iconografia. Os parceiros e o trabalho em equipe, fundamentais para a construção de uma história que mudou a imagem do carnaval da cidade e que tornou a cenografia um espetáculo a mais para os foliões. No livro ela revela as descobertas dos materiais e soluções que foram encontradas ao longo dos anos. Traz os esboços, os desenhos finais e o registro fotográfico das imagens aplicadas no ambiente urbano. Tudo temperado por um colorido e uma poética de quem é verdadeiramente uma foliã nata.
Quando a vida é uma euforia
O Carnaval do Recife rendeu a Joana a participação em diversas exposições nacionais e internacionais. Entre elas, a mostra sobre Arte e Cidade no Designmai (Alemanha, 2006), a Expo Xangai (China, 2010), a Samba Etc. no Musée International du Carnaval et du Masque Bélgica, 2011) e a Carna Vale, sobre o imaginário brasileiro na cultura brasileira (São Paulo, 2015).
Em janeiro de 2018 o Instituto Tomie Ohtake abre as portas para o carnaval pernambucano de Joana. Ressalta as manifestações regionais, com um olhar atual e repleto de ressignificados. A curadoria de Mamé Shimabukuro promove uma aproximação do visitante com o multifacetado carnaval pernambucano. A ideia é transportar o público para uma das maiores festas populares brasileiras. “A mostra busca uma tonalidade experimental, ao costurar situações imersivas e documentais sobre as histórias e personagens deste carnaval. Refletindo sobre como as representações gráficas da cultura carnavalesca interagem com os sentimentos e emoções das pessoas”, afirma a curadora. Para isso, a exposição conta com a trilha sonora de Maurício Badé.
“Quando a vida é uma euforia” se divide em três núcleos. O primeiro trata da ideia de pertencimento. Traz o registro de manifestações culturais como Frevo, Maracatu e Caboclinhos. Junto as intervenções urbanas realizadas por Joana. O segundo é sensorial, com grandes projeções marcadas pelo som dos ritmos locais. E o terceiro é a transcendência, exibindo personagens em tamanhos monumentais. Só quem já foi ao carnaval de Pernambuco sabe do que se trata e essa é uma grande oportunidade de sentir um pouco dessa efervescência. “Joana traduz com seu vigor criativo as tradicionais invenções do povo edificadas na cultura brasileira”, completa Ricardo Ohtake.
Programa Educativo da Exposição de Joana Lira
Oficina de Música Percussiva Pernambucana
- Ministrada pelo músico percussionista Maurício Badé
- Atualmente ele trabalha com Criolo e Russo Passapusso
- 03/02 | 11h
Oficina de fantasias de carnaval
- Ateliê de produção de fantasias carnavalescas
- Educador Felipe Tenório
- 09/02 | 13h
Padrões Momescos: estampando a emoção
- Oficina de estamparia manual de estampas autorais a partir de técnica pochoir inspirados no carnaval pernambucano
- Ministrada por Lin Diniz e Bárbara Penaforte
- 17/02 | 9h às 18h
Contação de histórias
- Inspirada no livro “O carnaval dos bichos aloprados” (Editora Nova Fronteira), de Joana Lira
- 24/02 | 11h
Conversa em bloco
- Visita à exposição e conversa sobre a pesquisa e as produções para o Carnaval de Recife
- Mediadas pela artista gráfica Joana Lira
- 24/02 | 15h
Apresentação de dança contemporânea
- Espetáculo que une a cultura popular à arte contemporânea
- Com a cantora, compositora e dançarina pernambucana Flaira Ferro
- 04/03 | 18h
Quando a vida é uma euforia
- 24 de janeiro de 2018 até 04 de março de 2018
- De terça a domingo, das 11h às 20h
- Entrada gratuita
Inscrições para o Educativo
- (11) 2245.1937
- setoreducativo@institutotomieohtake.org.br
Instituto Tomie Ohtake
- Av. Faria Lima 201 – Complexo Aché Cultural (Entrada pela Rua Coropés, 88) – Pinheiros SP
- Metrô mais próximo – Estação Faria Lima/Linha 4 – amarela
- (11) 2245.1900