Extrair da madeira a elegância de troncos nobres, imprimindo personalidade e conforto aos ambientes. A casa projetada pelo arquiteto Anderson Muniz, em Itamambuca (Ubatuba), litoral de São Paulo, traz essas características e detalhes incríveis de criatividade, inovação e sustentabilidade.
A residência tem um conceito modernista com ambientes integrados e área de estar/lazer ampla. Os materiais aplicados foram pensados na praticidade de uma casa de praia, como piso de mármore serrado em toda área comum do térreo e banheiros. “O material é antiderrapante, de textura muito agradável e com secagem rápida”, explica o arquiteto.
Nos quartos e no home theater Anderson usou pisos de madeira de reuso e taco palito, forro e brises de madeira cumaru, caixilharia de alumínio e toda a estrutura metálica com galvanização a quente – devido às intempéries do lugar. “A estrutura veio pronta e foi toda parafusada no local, isso possibilitou limpeza na obra e velocidade na execução”, conta o autor do projeto.
Preocupado com a sustentabilidade, Anderson também inclui uma usina fotovoltaica, reuso de águas e automação em toda iluminação, piscina, ar condicionado e persianas. “A casa foi pensada para que não fosse preciso o uso de ar condicionado devido a circulação cruzada de ar”, reforça.
Escada suspensa na árvore
Ao projetar a casa de Itamambuca, Anderson buscou um desenho alegre, livre de muitas paredes, um lugar aberto às belezas e riquezas naturais do local e que acolhesse bem o casal de proprietários e os seus filhos e netos. Para esse centro de reunião familiar, com 1100 m², cada detalhe foi pensado com muito cuidado.
Por isso, ao pensar numa solução para a escada, que seria erguida no centro do imóvel, Anderson pensou no gaúcho Hugo França. Desde o final dos anos 1980, ele desenvolve “esculturas mobiliárias” (expressão usada primeiramente pela crítica Ethel Leon e adotada pelo designer, por sua precisão em descrever a produção que ele executa a partir de resíduos florestais e urbanos – árvores condenadas naturalmente, por ação das intempéries ou pela ação do homem).
As peças criadas pelo designer nascem de um diálogo criativo com a matéria-prima: tudo começa e termina na árvore. Ela é a sua inspiração; suas formas, buracos, rachaduras, marcas de queimada e da ação do tempo provocam sua sensibilidade e o conduzem a um desenho cuidadosamente escolhido, uma intervenção mínima que gera peças únicas.
Quando recebeu o convite para criar uma escada diferente para uma casa na praia Hugo diz ter se sentido desafiado e com a criatividade aguçada. “Queria algo que fosse novo e, ao mesmo tempo, tivesse a minha marca registrada: a natureza nua e crua como protagonista”, lembra.
O artista sugeriu um belo tronco, que viesse de uma árvore que já estivesse caída, para servir de estrutura para o encaixe de degraus em seu entorno, compondo com harmonia e grandiosidade o projeto assinado por Anderson.
Foi a campo e, depois de um mês de buscas com a ajuda de um parceiro, morador da região, localizou, na Mata Atlântica, um Angico Preto monumental, com formas orgânicas e estrutura robusta. A madeira foi cortada nas proporções solicitadas, em torno de 10 metros de altura, e depois foi arrastada pela mata até chegar ao lugar de onde seria rebocada.
Tanto empenho não poderia ter outro resultado: a maior peça interna que o artista já produziu. A árvore, que estava caída pela região, entrou imponente na casa. Ganhou nova função. A casa com estrutura metálica e linhas geométricas acolheu muito bem suas formas orgânicas, curvas dignas de uma escultura no centro da sala.