A CASACOR PE 2022 escolheu um lugar que evoca a história e a alma da capital do Estado, o Edifício Chanteclair. Entre as décadas de 1950 e 1980, o prédio, que hoje é cedido pela Santa Casa de Misericórdia do Recife, já armazenou açúcar, foi sede de um banco, viu muitas lojas crescerem e também foi um bordel bem famoso. E é lá que a arquitetura, design, arte e história se misturam na 35a edição da Mostra.
E essa retomada traz também a volta do já consagrado TOP revistaSIM. Para celebrar, convidamos o arquiteto Mário Baô, para selecionar os sete melhores ambientes desta edição histórica. O arquiteto que possui 25 anos de arquitetura e participou desde a primeira CASACOR PE(em 1997), chega para fazer uma seleção especial.
Na hora de eleger o TOP 7 dos melhores ambientes da CASACOR PE 2022, Mário Baô observou a usabilidade, os aspectos sensoriais e estéticos provenientes da arquitetura. Aliado a isso, o uso crescente da tecnologia e automação, mas sem deixar de lado a originalidade do prédio histórico que em muitos ambientes foi preservado e destacado.
Para Mário Baô, um dos diferenciais da CASACOR PE 2022 além, é claro, do local onde está sendo realizada, foi o esmero dado ao revestimento. “Essa foi uma das mostras onde a questão do revestimento foi bastante explorada, ganhando uma execução mais aprimorada. Notamos muitos balanceamentos e equilíbrios que contribuíram para uma casa ainda mais harmoniosa. Os ambientes estão muito bem acabados, não há disparidade entre eles”, pontua Baô.
Quer saber o que ele tem a dizer sobre cada um? Então dê o play no vídeo e confira o TOP 7 revistaSIM da CASACOR PE 2022.
O que você encontrará neste post:
Confira o TOP 7 da CASACOR PE 2022
1 Ataraxia Lounge Gourmet – Nejaim Azevedo
Trazer a cozinha para dentro de casa, não é uma missão fácil. É uma continuidade do ambiente aconchegante criado pelas arquitetas que exploraram de forma eloquente todos os aspectos sensoriais e estéticos. Tudo ali é funcional. A circulação do ambiente é feita para que as pessoas possam apreciar e circular por todos os pontos. Dos eletrodomésticos embutidos, da adega moderna e luxuosa ao sofá curvilíneo que é um verdadeiro convite para sentar e apreciar a arquitetura ali realizada. Tudo foi muito bem pensado para que o ambiente pudesse ser tão harmonioso e elegante”
Mário Baô
Em primeiríssimo lugar está o Ataraxia, o Lounge Gourmet das arquitetas Márcia Nejaim e Suzana Azevedo. Um convite ao acolhimento, à tranquilidade e aos encontros. O pensamento da “Casa-refúgio”, ou “Chillhouse”, norteou a integração dos ambientes, o uso das cores terrosas e a escolha do mobiliário curvo. Um toque de simetria na disposição dos sofás e das cortinas é um dos elementos de elegância do projeto. A composição com teto em madeira descendo um roda teto, juntamente com o porcelanato que homenageia Ruy Ohtake e sobe como um rodapé, traz aconchego e cria uma linda faixa que encaixa perfeitamente a obra do artista plástico Antônio Mendes. São três quadros batizados de “Eu te amo” que fazem referência ao prédio e às histórias de paixão que já existiram no local. Do lado oposto, uma bela composição de jarros em barro vindos da Bahia. O gourmet vai além do desenho da mesa e bancada, permeia a seleção de móveis elegantes e tecnológicos. Luxuoso sim, mas acolhedor e não ostensivo.
2 Lounge Coral – Romero Duarte
Aqui o grande impacto é a coleção de Francisco Brennand e como o arquiteto distribuiu de uma forma incrível todas as peças com muita harmonia. Não ficou monótono, nem cansativo, nem pesado. Fazendo uso da cerâmica branca, ele deixou tudo ainda mais leve. Outro ponto que merece muita atenção é a luminária desenhada por Romero. Belíssima! Vale a pena ressaltar também a subida e a descida que ele dá ao ambiente, para deixá- lo com uma boa leitura”
Mário Baô
O arquiteto Romero Duarte homenageia o artista plástico, escultor e ceramista Francisco Brennand na CASACOR PE 2022 , um verdadeiro convite à contemplação. Foi a obra “A dança” (1977/81), de Francisco Brennand, quem determinou a paleta de cores serena e a neutralidade necessária do ambiente para valorizar as obras e composições criadas pelo arquiteto. Neutro e sofisticado é a combinação do piso em quartizto Karius da Granos, que também foi utilizado para revestir a base das esculturas “Guardiões I e II”, que recepcionam quem chega, um deslumbre. É estar atento à curadoria, a escolha e a composição das artes no ambiente, com ritmos diferentes a partir dos agrupamentos e da iluminação. Destaque para a riqueza dos utilitários da linha branca de cerâmica de Francisco Brennand. Esse olhar se estende ao design do mobiliário, com peças de Sérgio Rodrigues e Jorge Zalszupin, além do desenho autoral de Romero nas prateleiras e na luminária que utiliza antigos vitrais portugueses.
3 Loft SoLar – Vitru Arquitetos
Uma excelente execução do projeto arquitetônico com a solução encontrada para o forro. É um dos pontos altos do espaço. Fazer um loft naquele local, com aquela viga e conseguir fazer espaços concisos e tão expressivos, é de uma alegria enorme. Poucos arquitetos têm uma visão tão boa quanto a que eles tiveram. Lá tudo conversa em harmonia, a paleta de cores é condizente com tudo”
Mário Baô
A luz é o ponto de partida para os arquitetos Thaisa Tenório e Magno Costa. A iluminação natural inspirou a paleta de cores e a escolha dos materiais usados no ambiente. Tudo direcionado a conexão íntima do próprio ser, o encontro com seu infinito particular. Do cru, passando pelos pastéis com pinceladas de tons mais quentes, a dupla foca no conforto e acolhimento para integrar os vários espaços. Design autoral para os biombos de laca com palha natural que funcionam tanto como divisória de ambiente, como cabideiro. Sem abrir mão da modernidade, combinaram elementos naturais como madeira, couro, pedra, tecidos e palha e trouxeram móveis de design nacional. Arte sem exageros, bem pontuada, atraindo o olhar até chegar na obra de maior dimensão e intensidade de Kilian Glasner, aquela aquecida contemplativa.
4 Oculum Deca – Dubeux Vasconcelos
Aqui os arquitetos tiveram muito sucesso com a circulação criada no espaço. Tudo está em uma excelente disposição, o que proporciona ao público um passeio pelas diferentes áreas do local sem despertar nenhuma sensação de se estar em um labirinto. A solução do vidro com a claraboia, revelando partes do Chanteclair merece um destaque, assim como a luminária que faz um jogo de alturas e proporciona leveza ao local. Vale ressaltar também a preocupação dos arquitetos ao utilizar a arte e peças de coleção e de acervo particular. A tela do artista pernambucano Montez Magno é a estrela do ambiente ao meu ver, pois além de ser bela, aquece”
Mário Baô
Oculum, um espaço de 560m2 para promover a calmaria na vida urbana. A ideia dos arquitetos Luiz Dubeux e João Vasconcelos foi a de proporcionar experiências relaxantes e sensoriais para o corpo e principalmente para a mente. O living abriga uma bancada gourmet, salas de jantar e estar e segue para o “banheiro spa”. Em contraponto ao vidro, a dupla desenhou um muxarabi de madeira para dividir o ambiente. As curvas proporcionam leveza e condução ao olhar e caminhar, elas estão presentes na bancada gourmet revestida com lâmina de madeira natural, no jogo de luminárias de Jader Almeida e que brincam com a inversão das cúpulas e alturas, no grande espelho da sala de jantar, no belíssimo quadro de Montez Magno que inspirou o desenho do tapete, até mesmo no mobiliário. Um ponto de colecionismo estimula a curiosidade e traz personalidade ao projeto, com os vidros Apostaram em preservar o pé direito usando madeira no teto para um maior conforto e deu super certo. Além da vista espetacular da claraboia no banheiro, tem a fotografia incrível de Paulo Higor Nunes, ambas revelando a história do edifício.
5 Bistrô Recentro – Daniela Pessoa
Este é um dos espaços que mais preservou o clima do Chanteclair. É um ambiente totalmente funcional e que poderia continuar existindo. A arquiteta construiu um local que interage com o visitante, que apresenta arte e resgata memórias. Parece que está aqui há muitos anos. Ele funciona muito bem! Deu tão certo, que não parece que a arquiteta fez isso apenas para a CASACOR. A curadoria de arte dela é muito boa e apresenta diversos artistas ao público pernambucano”
Mário Baô
O Bistrô carrega o DNA boêmio do Chanteclair e enaltece artistas plásticos de diferentes vertentes. Destaque para a preservação do piso original do edifício Chanteclair, aqui o ladrilho teve suas formas e cores enaltecidas. Daniela optou por deixar o super pé direito e usou o teto preto e diferentes faixas de materiais para trazer aconchego e conforto ao local. Um verdadeiro mix de mobiliário e objetos, assim como uma grande variedade de artistas, pluralidade de estilos. Um dos pontos altos é a obra de Wilson Luiz pendurada acima do balcão, utilizando mosaicos e papel marchê, uma referência às máscaras venezianas.
6 Restaurante Ver-se Vivix – André Carício
Um espaço muito bem resolvido, onde o diálogo feito com o Recife Antigo é bem construído. Me chamou a atenção também a expressividade da arte através do uso do mural das fotos do Chanteclair em sépia, que deixa a imagem com um estilo mais vintage. Destaco ainda as luminárias de desenho autoral do arquiteto. E por fim, o belo balcão”
Mário Baô
O ambiente criado pelo arquiteto André Carício para abrigar o Restaurante Kisu, evoca as lembranças de requinte e prestígio dos tempos áureos do Edifício Chanteclair. O ponto de partida foi manter a identidade do espaço através dos elementos já existentes, como os arcos originais do prédio. Ao preservar as portas, ele cria uma aproximação com a cidade. Os tons amadeirados, inclusive o teto em madeira, juntamente com o uso dos vidros decora bronze e decora nude na estante e a iluminação direcionada imprimem um ar intimista e elegante. A marca do design autoral de André está nas luminárias de parede, em uma belíssima composição.
7 Living Travessia – Ana Moura Ana Higino
As arquitetas Ana Moura e Ana Higino, criaram uma entrada cheia de significados e que promovem uma reflexão sobre a passagem do tempo, tranquilidade e pertencimento. Fazendo uso de formas orgânicas nos mobiliários, o ambiente é um convite ao aconchego e a contemplação da arte. Este é o infinito particular das duas arquitetas. Um ambiente muito inspirador e cheio de significados. As arquitetas promovem um culto à arte com escolhas maduras e cheias de expressividade. O Living Travessia é um convite ao bem estar e a singularidade da arte”
Mário Baô
Riqueza de arte que salta da base branca projetada pelas arquitetas. Um super pé direito é suavizado com uma bela parede ondulada como ondas. Elas tiraram proveito da escala e, entre cheios e vazios, apostaram muito mais nas grandes proporções do que na quantidade de objetos, mobiliário e arte. Um belíssimo baobá trocando as folhas humaniza o living. Com ele, a curadoria das obras de arte contempla quadros, esculturas e tapeçarias, tudo muito bem pontuado e valorizado pela iluminação de Márcia Chamixaes. É parar e apreciar o desafio de Pragana com o painel em tons off white, a Revoada de Demétrius Coelho, as cores de José Patrício e as duas tapeçarias uma do designer Jean Gillon e outra do pintor e artista Rubem Dario.