Durante os três dias de encontro serão abordados temas como criatividade, trabalho, talento e ética criativa. Fatores culturais, psicológicos, neurocientíficos e históricos, determinantes no desempenho criativo, também serão levados à discussão. Além disso, o workshop também joga luz sobre as novas tecnologias e como elas se relacionam com a inovação e a criatividade.
A abrangência de suas experiências tem resultado em palestras únicas, provocativas e às vezes desconcertantes, abordando temas aparentemente tão distintos quanto evolução, sistemas complexos, ecologia, arte contemporânea e esportes radicais, sempre com uma pitada de humor britânico.
As cinco palestras serão escolhidas a partir de um repertório de 11 temas disponíveis – esta escolha será efetuada de acordo com as particularidades da composição de cada grupo. Os exercícios propostos nos encontros abrem caminho para ajudar na construção de ideias, segundo Charles. “Vou dar problemas que deixam muito claro para a pessoa quão limitada ela é em certos tipos de problemáticas, sem poder manipular coisas do mundo”, exemplifica e completa: “Criatividade não pertence a nenhuma disciplina, pertence a gente. Então, levando isso em consideração, uma pessoa pode ser criativa em qualquer que seja a área. Eu já conto com o fato de que as pessoas que vão fazer o curso comigo já estão curiosas sobre a possibilidade de algum tipo de mudança. E talvez uma das questões sobre a criatividade é saber quem é que está disposto a fazer esse tipo de trabalho”.
Confira a entrevista com Charles Watson:
O que você entende por Criatividade?
CW- Criatividade envolve a criação de novas ideias que têm algum valor dentro de um contexto específico. Este valor deve ser conferido por alguém além do próprio criador. E para poderem ser conferidas, estas ideias terão que ter algum nível de concretização. Criatividade frequentemente vai envolver alguma surpresa não só para quem cria (“fui eu que fiz isso?!”) mas também para o observador (“por que eu não pensei isso?”). Um ato criativo pode se manifestar em diversos campos de atuação.
Pessoas criativas têm algo em comum?
CW-Acho que sim. Estas pessoas tendem a ter uma relação de paixão com o que fazem, tendem a ser persistentes, curiosas, inteligentes (até um certo ponto), convictas, corajosas e frequentemente possuem um gosto pelo lúdico.
Qual é a importância do talento?
CW-Se o talento é uma predisposição ou facilidade em fazer algo, então não seria suficiente para garantir a criatividade. Pesquisas conduzidas ao longo das últimas décadas sugerem que, se é que o talento existe, não seria suficiente para garantir uma vida criativa. Sabemos que existem crianças bem dotadas, mas curiosamente, é raro que se transformem em adultos que fazem a diferença dentro das suas respectivas áreas de atuação.
Em outras palavras: O que é talento na ausência de paixão, curiosidade intensa, persistência, coragem, grande disposição para o trabalho? O talento sem estes outros fatores provavelmente seria invisível.
É possível ensinar uma pessoa a ser criativa?
CW-Tem um ditado antigo inglês que gosto: “You can take a horse to the water, but you can’t make it drink.” (Você pode levar um cavalo para a água, mas não pode obrigá-lo a beber.) Em outras palavras, é possível ajudar uma pessoa a se conscientizar sobre as armadilhas que ela cria para si mesma ao longo do seu processo, mas a energia que disponibiliza para a sua área de estudo é uma questão que só ela vai resolver. E tem mais, o que você quer dizer com “ensinar”? Não vejo o processo de ensinar, neste contexto, como necessariamente passar informação, e muito menos como preparar alguém para o mercado, mas sim como provocar reflexão para que a pessoa atinja autonomia na sua capacidade de pensar seus próprios problemas… Metacognição.
Você menciona uma regra de 10.000 horas. O que significa?
CW-A chamada “regra de 10.000 horas” vem do trabalho de pesquisadores como K. Anders Ericsson, Michael J. Howe, Jane W. Davidson, John A. Sluboda e outros, que descobriram que é muito raro alguém fazer uma contribuição significativa na sua área de atuação sem ter passado aproximadamente 10 anos ou 10.000 horas envolvido com o seu assunto. Isso é uma estimativa do tempo, em média, que uma pessoa leva para internalizar informações suficientes do seu ramo para poder formular perguntas cruciais. É o tempo para criar conhecimento tacita.
Talvez valha a pena dizer que não acho que este período de 10 anos é modificado pela enxurrada de informações disponibilizadas por novas tecnologias como a da internet. A internet viabilizou sim informações em quantidades sem precedentes, mas não modificou o tempo que em geral é necessário para assimilá-las. Podemos pensar a internet como um imenso receptáculo de possíveis respostas para problemas ainda não formulados.
Como é possível estimular a criatividade?
CW-Em primeiro lugar, a melhor maneira de estimular criatividade é garantir que a pessoa está trabalhando em uma área que traz significado para sua vida. É difícil estimular criatividade numa pessoa cuja relação com que faz é de relutância, obrigação ou de compulsão.
Você acha que o avanço da tecnologia, o surgimento de novos meios que tornam a comunicação cada vez mais rápida e o acesso às informações mais fácil, colabora para a multidisciplinaridade e para o desenvolvimento criativo ou pode ser uma armadilha?
CW-Em primeiro lugar o fato de ter a comunicação mais rápida e uma quantidade estonteante de informação ao nosso dispor, não altera em nada o tempo que leva para uma pessoa processar e assimilar esta informação. Uma outra coisa é que quando se trata de significativos avanços criativos, a quantidade de informação disponível acaba sendo irrelevante se não tiver a existência de um problema formulado para o qual, esta informação pode se tornar pertinente. Se não, acaba sendo um caso de “all dressed up on a Saturday night and nowhere to go” (“todo arrumado num sábado a noite sem ter aonde ir”).
Do ponto de vista da criatividade, toda informação pode ser considerada uma resposta para um problema ainda não formulado. Sem questões bem formuladas, informação é apenas informação. A tecnologia não faz pessoas criativas. Uma pessoa criativa vai ser criativa usando ou não computador, lápis, ou qualquer que seja o instrumento alinhada a sua área de atividade.
A educação formal compromete a criatividade?
CW-Educação formal na maioria dos casos é caracterizada pelo que chamamos de pensamento convergente––respostas certas para problemas bem delineados, penalizando sistematicamente o erro. Ensinando o que pensar ao invés de como pensar. Pensamento convergente é importante porém não suficiente para um dinamismo criativo.
Poder errar no contexto criativo não é apenas recomendado, é uma pré-condição. A única coisa que a ausência de erro comprova é que a pessoa nunca experimentou algo novo, e estou incluindo empresas nesta avaliação.Todo sistema que penaliza o erro é destinado ao fracasso mais cedo ou mais tarde por estar eliminando possíveis respostas para futuros problemas.
Qual a sua visão sobre a educação no Brasil?
CW-Na última vez que fui informado, o Brasil era a 7º economia no mundo e o 54º em termos de investimento em educação. Isso fala por si, não acha? Nenhum sistema que enfatiza acima de tudo a decoreba da informação e provas ainda baseadas em múltipla escolha irá ter muito êxito em desempenho criativo.
Por que a criatividade é tão associada ao mundo da arte?
CW-Arte, talvez seja um dos poucas atividades onde toleramos enormes investimentos de energia em troca de nada. O que eu quero dizer é que, na sua essência, a arte não tem finalidade––que não quer dizer que arte não tem consequências.
É na melhor das hipóteses, uma atividade Autotélica . Isso quer dizer que em princípio é uma atividade que é a sua própria justificativa. É por isso que é associado com criatividade. Agora tendo falado isso, é bom lembrar que os que fazem a diferença nessa área de atuação, são uma minoria, como em qualquer disciplina. A maioria está batendo ponto.
Serviço:
Curso Creativity Masterclass com Charles Watson
Local: Laboratório Louco – Porto Digital
Fone: (21) 99288-6476
Email: contato@dynamicencounters.com.br
Endereço: Rua do Apolo, 235, Bairro do Recife – Recife.
Dias: 21 a 23 de setembro
Valor:R$ 550,00