Dois olhares sobre o Recife se cruzaram: um curioso, outro apaixonado, trazendo ganhos expressivos para a arte e a cultura. Alemanha, Brasil e França estão debruçados sobre a obra de Paulo Bruscky e levam nossos traços mais marcantes a uma mostra na Europa.
Sobre esse projeto, nascido após uma residência de curadoria da produção artística de Bruscky, que teve início no dia 10 e foi finalizada ontem (20/12), o francês Jean-Michel Bouhours, que foi conservador e curador do Centre Georges Pompidou, em Paris, por 40 anos, e Gabriel Montua, curador alemão da Galeria Nacional de Berlim falaram aos jornalistas, na Galeria Amparo 60.
A residência foi patrocinada pelo Fundo Cultural Franco Alemão – criado em 2003, com o objetivo de estimular e apoiar projetos.
Chamada “Patrimônio do futuro – Cidades portuárias criativas e inovadoras: Recife, Nantes e Hamburgo”, nasceu sob o impulso do Consulado Geral da Alemanha e do Consulado Geral da França, ambos no Recife com atuação em todo o Nordeste. “O objetivo é favorecer o intercâmbio de experiências, relativo a propostas de articulação entre reabilitação de bairros ou patrimônios urbanos de tradição portuária e o apoio a inovação e as indústrias criativas.
Acontece nas cidades do Recife (no Brasil), Nantes (na França) e Hamburgo (na Alemanha). Representa também uma etapa e um catalizador, favorecendo a emergência de colaborações e intercâmbios culturais e econômicos entre as três cidades”, diz Gabriel Montua.
Além da residência com Bruscky, o projeto permitiu organizar mais dois eventos em 2018: uma residência criativa sobre o papel da iluminação pública na reabilitação urbana, com os designers e especialistas Thomas Klug (França) e Bernhard Dessecker (Alemanha) e uma residência musical em parceria com o Paço do Frevo, com músicos de Nantes, Hamburgo e do Recife.
Conservação da arte
“Paulo Bruscky se revela um artista que atua na comunicação. Ele estabelece sua própria definição do papel do artista contemporâneo: a arte como baluarte da globalização da mídia de massa e como memória de uma época. Não por acaso, é envolvido na difusão e conservação da arte, com o maior acervo documental da arte contemporânea da América Latina, com mais de 70 mil itens”, ressalta Bouhours.
A partir desses elementos e na perspectiva de mostrar a obra de Paulo Bruscky ao público europeu, os curadores pensaram ser particularmente interessante buscar e valorizar, além da grande diversidade de mídias usadas pelo artista, as temáticas que são transversais a essas mídias. Foi proposto, então, o lema “Arte como Comunicação” para pensar em uma futura exposição.
Para eles, a obra de Bruscky permite ao público europeu entender melhor o Brasil e a história de Pernambuco. “As coleções e acervos de Bruscky permitem contextualizar seu processo quanto ao mundo artístico brasileiro e a movimentos como o Antropofagismo e o Tropicalismo e revelar, além do criador, sua vocação como pesquisador da história e da cultura de Pernambuco e do Recife”, explica Bouhours.
Apaixonado pelo Recife, Bruscky diz que recebeu com enorme satisfação a proposta da residência e da exposição, que poderão estreitar laços com a Europa e mostrar Pernambuco ao mundo. “Saí e voltei para o Recife inúmeras vezes. Não importa o lugar onde eu estive, nada melhor do que o Recife. Carlos Pena Filho já dizia: ‘Amar mulheres, várias. Amar uma cidade, só o Recife’. Desde os anos 60, até hoje, mantenho bons contatos com artistas franceses e alemãs. Tive contato com todos os grandes artistas de vanguarda, principalmente dos anos 70. Mas o Recife tem um povo diferente, um humor diferente, um olhar diferente. Essa troca será muito enriquecedora”, diz.
A perspectiva é que o projeto sobre a exposição esteja pronto até fevereiro de 2019.