O MUDE – Museu do Design e da Moda, de Lisboa, acaba de lançar a exposição “Tanto Mar – Fluxos Transatlânticos do Design”, que traça um mapa dos fluxos entre Portugal e Brasil no campo do design e da cultura material. A partilha de olhares e ideias entre as duas curadoras – Bárbara Coutinho, portuguesa, diretora do MUDE, e Adélia Borges, brasileira – teceu uma malha transversal de trabalhos e autores que vivem cruzando e unindo o Atlântico.
A mostra reúne peças de diferentes fases das nossas histórias, desde o período de colonização do Brasil, e centra o foco nos séculos 20 e 21. Sem a intenção de criar um discurso cronológico ou de esgotar um tema tão vasto e complexo, Tanto Mar– Fluxos Transatlânticos do Design é uma malha de diálogos, afinidades e influências.
A seleção inclui cerca de 160 peças, entre móveis, roupas, joias, utensílios, ferramentas, objetos decorativos, painéis de azulejos, tecidos, ilustrações, marcas e publicações. Entre os vários projetos exibidos encontram-se cadeiras de Joaquim Tenreiro, que buscou em Portugal a maestria no trato da madeira para se tornar o “pai” do móvel moderno brasileiro.
No caminho oposto, registra-se a aplicação das colunas do Palácio da Alvorada, de Oscar Niemeyer, no Colégio de Moimenta da Beira, gesto considerado subversivo pela ditadura de Salazar. É bem presente a reinterpretação de motivos, símbolos, matérias e técnicas cujas origens, algumas vezes, se perdem no tempo, como a rodilha, o bordado e a azulejaria. Um caso emblemático é o da onda na calçada portuguesa, que nasceu na Praça do Rossio, em Lisboa, e depois foi aplicada em vários países, tornando-se um dos principais signos da imagética brasileira em sua versão na Praia de Copacabana, no Rio de Janeiro.
Merece destaque, ainda, a representação de intelectuais, artistas, designers e arquitetos para quem a ligação entre Portugal e Brasil foi muito importante. Entre eles, Carmen Miranda, Fernando Lemos, Rafael Bordalo Pinheiro, Lúcio Costa, além do próprio Joaquim Tenreiro. Mapeiam-se também iniciativas recentes de trabalhos elaborados em conjunto por profissionais das duas nacionalidades.
O que você encontrará neste post:
Design e cultura
No total, estão identificados pouco mais de uma centena de autores, mas há uma significativa presença de objetos de autoria coletiva ou desconhecida, provenientes da cultura popular, do universo artesanal e das criações que atravessam os séculos – caso, por exemplo, da chita e de signos encontrados tanto na iconografia dos pastores em Portugal quanto dos seleiros no Nordeste do Brasil. As curadoras decidiram pinçar também obras de Angola, Cabo Verde, Moçambique, Senegal e Timor Leste.
O artista e designer gráfico Fernando Lemos, português há mais de 70 anos no Brasil, criou o cartaz original de Tanto Mar – Fluxos Transatlânticos do Design. A partir dele foi desenvolvida toda a proposta gráfica. A brasileira Mana Bernardes fez uma instalação num trabalho cooperativo com o grupo português “A Avó veio Trabalhar”, iniciativa de Susana António e Ângelo Campota. Os também portugueses Manuela Pimentel e Diogo Machado (Add Fuel) criaram reinterpretações contemporâneas da azulejaria.
Na varanda de entrada do Palácio da Calheta, um redário usável evoca a instalação criada pelo arquiteto brasileiro Lúcio Costa, em 1964, para o Pavilhão do Brasil na 13ª Trienal de Milão. Ali os visitantes podem ouvir uma seleção de músicas proposta por Bárbara Coutinho e Adélia Borges, com temas relacionados ao conceito da exposição.
Tanto Mar é a terceira e última exposição da programação do MUDE desenhada no âmbito da iniciativa Lisboa, Capital Ibero-Americana da Cultura.
A curadoria da exposição foi vivida como um processo dinâmico e aberto, e recebeu também a contribuição de outros investigadores e estudiosos, dos dois lados do Atlântico. Ao trazer à luz as múltiplas confluências entre os dois países, as curadoras acreditam que Tanto Mar apontará para renovadas possibilidades de intercâmbios no presente e no futuro.
Sobre o MUDE
O MUDE – Museu do Design e da Moda, Coleção Francisco Capelo abriu ao público em Lisboa, em 2009. É um museu dedicado a todas as expressões do design, com áreas de exposição, criação, convívio, educação e debate. O seu nome expressa uma das suas missões principais: estimular a criatividade, conscientizar e provocar a mudança de atitude perante a cultura material e a própria vida.
MUDE Museu do Design e da Moda
Coleção Francisco Capelo
Rua Augusta 24, Lisboa – Portugal