A artista plástica Juliana Notari reúne a partir de 19 de outubro, no Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães (MAMAM), uma expo sobre os seus 20 anos de trajetória artística. A mostra, tem curadoria de Clarissa Diniz, e o título da mostra deriva de um dos trabalhos em exibição, a série “Spalt-me” que,iniciada em 2009, reúne fotografias de paisagens diversas nas quais surge uma grande fenda vermelha.
“Acompanhado da partícula ‘me’, spalt torna-se um neologismo de caráter reflexivo, uma convocação à ideia de abrir uma fresta em seu próprio corpo, seja ele humano, arquitetônico, histórico, semântico. “Spalt-me” é, por isso, a imagem que, oriunda do corpo poético de Notari, se torna um convite a percorrermos as diversas fendas de sua vasta produção”, explica a curadora Clarissa Diniz.
Os três núcleos da expo “Juliana Notari: Spalt-me”
O primeiro núcleo da exposição ocupa o térreo do museu e reúne obras nas quais o corpo é protagonista. São objetos, vídeos, desenhos, fotografias e performances cujas investigações desafiam padrões de beleza, limpeza e erotismo atribuídos historicamente aos corpos das mulheres.
Ainda neste primeiro núcleo, o conjunto de três desenhos “AR-DOR”, que reage ao imaginário patriarcal da histeria, e a série Inneresteren, que apresenta bonecos de recém-nascidos nos quais Notari projeta uma fabulada trama de órgãos, fetos, veias, úteros, vértebras, células, que, quando visíveis, sublinham a sensação de corpos em decomposição.
No primeiro andar, o segundo núcleo apresenta obras que refletem a vivência da artista em várias cidades do Brasil e do mundo, e o seu confronto com a simbologia e a monumentalidade de uma sociedade patriarcal e colonial. Compõem o segundo núcleo obras como Ferida da Bienal e Spalt-me, que trazem o gesto de abrir fendas, rasgos, em ambientes institucionalizados, formais, arquiteturas que têm um peso histórico, revelando e desnudando seus traumas. “Spalt-me agora vem num formato de cartão-postal. Vão ser 12 cartões-postais que vão ficar disponíveis para que o público possa levá-los, levar aquela paisagem com aquela ferida”, detalha a artista.
O terceiro núcleo trata das feridas: símbolos de dor e de vulnerabilidade para muitas culturas, e que habitam o imaginário da artista há décadas. “Mesmo quando íntimas e sentidas desde sua pele, elas são fundamentalmente chagas históricas, políticas e de gênero diante das quais nenhum corpo está seguro. Dado o compromisso da artista com as feridas de muitas e muitos de nós, sua sensibilidade para o que há de traumático em nossas vidas e sociedades considera não apenas a denúncia, o revide ou a redistribuição dessas chagas, mas também aponta para práticas terapêuticas, cuidados e curas, como revelam os trabalhos reunidos no terceiro núcleo da exposição”, conta a curadora.
É neste núcleo que está “Diva”, trabalho recente da artista que gerou grande repercussão. Em 2020, Juliana Notari cortou o solo marcado pela monocultura da cana-de-açúcar da Usina Santa Terezinha, na Zona da Mata Sul de Pernambuco. São 33 metros de comprimento numa espécie de morro que se transformou na prospecção-buraco-escultura-intervenção “Diva”, certamente a obra de sua autoria que gerou maior repercussão, debate entre campos de pensamento opostos, cancelamentos e até ameaças de cunho misógino.
Como sublinha o último núcleo da exposição, as feridas e fendas estão por toda parte. Em “Dra. Diva”, série iniciada em 2003, com uma marreta, a artista passou a abrir buracos em paredes de galerias e museus: espaços de brancura historicamente higienista, racista e machista. Essas fendas recebiam sangue e nelas eram colocados espéculos para mantê-las abertas, escancaradas. As feridas também estão em “Amuamas,” trabalho que nasceu a partir da temporada em que a artista morou em Belém (PA).
“Clarissa acompanha meu trabalho há muitos anos, então ela trouxe essa proposta de dividir a mostra em núcleos diferentes, que abordam o meu olhar para o corpo (inclusive meus projetos em torno dos cabelos), a urbanidade, a alimentação, o risco e o cuidado. A exposição ressalta a centralidade das feridas sociais, dos traumas ligados à urbanidade e à modernidade: uma crítica ao capitalismo falocêntrico e patriarcal. Tudo isso está na exposição”, resume a artista.
“Juliana Notari: Spalt-me” ficará em cartaz até 11 de dezembro de 2024. A exposição é acessível e contará com ações educativas.
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Serviço da expo Juliana Notari: Spalt-me:
Abertura : 19 de outubro de 2024, das 15h às 18h- Entrada gratuita
Visitação: De quarta a domingo
Quartas, quintas e sextas, das 10h às 17h Sábados e domingos, das 10h às 16h
Endereço: Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães, MAMAM
Rua da Aurora, 265 – Boa Vista, Recife – PE