Este ano foi comemorado o centenário da Semana de Arte Moderna de 1922, e para celebrar foi lançado pela Companhia Editora de Pernambuco (Cepe) o livro Pernambuco Modernista, do jornalista e escritor Bruno Albertim.
São 185 páginas que traz prefácio do curador Marcus Lontra, além de ilustrações e perfis dos protagonistas do movimento, tanto do início – Cícero Dias, Lula Cardoso Ayres, Vicente do Rêgo Monteiro -, quanto de meados do século XX – José Cláudio, Francisco Brennand, Tereza Costa Rêgo, Gilvan Samico, João Câmara, Raul Córdula, Montez Magno, Reynaldo Fonseca e Guita Charifker.
“O evento catalisou e ajudou a forjar uma sensibilidade moderna no Brasil. Não foi assimilado pelo resto do país. Criou um código da modernidade. É um vetor da modernidade estética no Brasil, no campo das artes. Mas por outro lado, São Paulo foi muito eficiente também em provocar uma certa mentira que entrou como verdade na narrativa oficial da arte brasileira. São Paulo forjou um mito de que a sua modernidade seria suficiente para dar conta e justificar o modernismo no Brasil, como se houvesse apenas um modernismo. E nós temos vários modernismos”, ressalta Bruno Albertim.
O que você encontrará neste post:
Como surgiu o livro?
O projeto partiu da necessidade de contestar a hegemonia de São Paulo como único disseminador no Brasil das ideias modernistas. Se por um lado a centralização do Modernismo em São Paulo é uma visão problemática, por outro pode-se dizer que o movimento foi bem-sucedido na principal de suas propostas: a construção de um conceito hegemônico de identidade nacional.
O que é abordado?
A obra também revela que Pernambuco teve e tem um dos modernismos mais importantes. “Há uma preocupação com a identidade regional, com a insolação tropical, com essa cultura popular que começa a ser digerida por esses artistas de classe média e de elite em favor da construção de um discurso regionalista”, revela o autor, Bruno Albertim.
O livro de Albertim promete trazer luz aos fatos que deixaram de lado muitos trabalhos modernistas que já existiam. “É sobre isso que trato no meu livro, quero trazer à tona. Organizo esse percurso que vem sendo estudado por historiadores e críticos importantes no Brasil . E muitos apontam para o fato de que Pernambuco teve e tem um dos modernismos mais densos do Brasil”.
Confira alguns trechos do livro
O painel Eu vi o mundo…. ele começava no Recife por pouco não rachou o antigo prédio da Escola Nacional de Belas Artes. Os refluxos subiam tanto dos estômagos conservadores como pela traqueia dos modernistas. Não se sabia o que mais incomodava, a narrativa ou o suporte. O uso dos materiais — aquarela sobre papel kraft colado numa extensão, originalmente, de 15 metros — representava em si um certo desrespeito à nobreza e às pretensões de eternidade do métier. A temática, sobretudo, faria corar os dois lados do balcão”.
Minha arte é moderna. Moderníssima, no sentido de que ela contraria todos os cânones da arte contemporânea. E ela se refere sempre a uma ancestralidade, a uns arcaísmos e, sobretudo, a arquétipos. Então, neste momento, eu permaneço moderno e antigo. Sobretudo, quando trabalho com cerâmica, muito mais do que quando eu pinto”, me dizia (Francisco) Brennand.
Exposição Modernista no Museu do Estado de Pernambuco
A Cepe realiza também a exposição Semprenunca fomos modernos. São 109 obras baseadas no livro de Bruno Albertim. A mostra que irá acontecer no Museu do Estado de Pernambuco (Mepe), estará aberta ao público de 6 de agosto até 25 de setembro.
Com curadoria assinada pelo diretor do Mepe, Rinaldo Carvalho, ao lado de Bruno Albertim, da historiadora Maria Eduarda Marques e da especialista em Artes Visuais Maria do Carmo Nino, o objetivo desta exposição é trazer novas narrativas visuais, inclusivas, diversas e plurais sobre a arte moderna no Estado.
As obras se distribuem em núcleos argumentativos, desde os primórdios do modernismo pernambucano, com Lula Cardoso Ayres, Cícero Dias e Vicente do Rêgo Monteiro, no início do século 20, até meados dele, com Francisco Brennand, Tereza Costa Rêgo, José Cláudio e Guita Charifker, até chegar aos modernistas contemporâneos. “São artistas do século 21 que socialmente fazem parte de grupos invisibilizados, como mulheres, negros e pessoas trans, que até pouco tempo não tinham o direito de escrever a história visual de Pernambuco”, resume Bruno.
Como adquirir o livro Pernambuco Modernista ?
A obra custa R$ 100 (livro impresso); R$ 40 (E-book). Podendo ser adquirido no site da Companhia Editora de Pernambuco.