A noite do domingo, 2 de setembro foi vermelha na Quinta da Boa Vista, Rio de Janeiro. Imensas fileiras de labaredas consumiram por seis horas 200 anos de história, um acervo com mais de 20 milhões de itens e um patrimônio histórico, artístico e cultural de valor incalculável para o Brasil e o mundo. Assim, milhões de brasileiros assistiram atônitos à morte do Museu Nacional do Rio de Janeiro, mais antigo do país, subordinado à UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e que, desde 2014, vinha enfrentando dificuldades geradas pelo corte no orçamento.
Instalado num palacete dos tempos do Império, o Museu foi fundado por Dom João 6º, em 1818. Após o incêndio, apenas 10% do acervo resistiu ao fogo, segundo a vice-diretora da casa, Cristiana Serejo. Em sua avaliação, serão necessários ao menos R$ 15 milhões para a recuperação da estrutura. O que foi queimado, no entanto, é uma perda sem tamanho e sem volta.
Diante da tragédia, o Conselho de Arquitetos e Urbanistas do Brasil – CAU/BR, emitiu uma nota lamentando o fato (no final da matéria).
O que você encontrará neste post:
Arquitetos falam de perdas
Para o conselheiro do CAU/PE, Roberto Salomão, o incêndio no Museu Nacional representa um perda incalculável em dois aspectos: pelo espaço do conhecimento e pelo valor histórico. “Ele reunia um acervo de importância científica e cultural singular. Coleções inteiras, de extrema relevância se perderam. O valor histórico diz respeito a um local fortemente relacionado à formação do DNA da nação brasileira. A própria edificação em si. Temos que entender que todo edifício histórico-artístico integra uma rede de monumentos. Ele é importante como elemento (parte) e como o todo. É como se fizesse parte de uma corrente e que de repente se perde um elo. Precisamos de uma ação contínua e ininterrupta de valorização desses espaços, começando pela educação patrimonial”, pontuou.
O arquiteto Lourival Costa diz assistir com profunda tristeza ao fim do Museu Nacional. “É preciso ter a coragem de destacar que essa tragédia já era anunciada. É comum que nossos gestores priorizem iniciativas novas, e até faraônicas, ao invés de zelar, interferir e tornar nossos antigos museus sempre atrativos. No Rio de Janeiro, recentemente foram edificados três novos museus milionários deixando de lado (e pelo que foi divulgado agora) os antigos patrimônios já existentes. Isso também aconteceu recentemente no Recife. É preciso criar o novo, sem, contudo, deixar à míngua nossos preciosos objetos da arquitetura e do design esquecidos de participarem desses inocentíssima”, destacou.
Maspe lança catálogo em São Paulo
No próximo dia 15 de setembro o Museu de Arte Sacra de São Paulo irá lançar o catálogo editado pelo Museu de Arte sacra de Pernambuco (Maspe), em comemoração aos 40 anos de existência.
O acervo da instituição pernambucana está dividido em 12 categorias, entre objetos de arte sacra e de arte religiosa católica. São mais de 200 peças reunidas da publicação, editada pela Companhia Editora de Pernambuco (Cepe), datadas desde o século 17 ao século 20.
São Santos Homens, Santos Negros, Santas Mulheres, Mater Dei, Kyrios, Objetos Litúrgicos, Vestes Litúrgicas, Relicários e relíquias, Santos de Roca, Imagens e oratórios domésticos, Pinacoteca, amostras e fragmentos da memória.
O catálogo tem como organizadores o diretor do MASPE, Frei Rinaldo Pereira dos Santos, e os membros da equipe técnica do museu, Anazuleide Ferreira e Iron Mendes.
Eis a íntegra da nota do CAU/BR:
Nota do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil
sobre a tragédia do Museu Nacional
“Basta!
A destruição o Museu Nacional da Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro, não pode passar em branco. Essa tragédia deve servir como um grito de basta contra o abandono, negligência e destruição da memória nacional. A realidade, lamentavelmente, é que a situação do Museu Nacional não é única. Outras tragédias iguais podem ocorrer.
Os valores que nos identificam como sociedade não podem virar cinzas como o Museu Nacional. Conclamamos o Estado, os arquitetos e urbanistas, as universidades, os intelectuais, as entidades de classe, enfim, a sociedade brasileira a se mobilizar.
O basta! deve vir de toda sociedade. Dos estudantes ao Presidente da República.
De imediato é necessário levantar outros bens em perigo – inclusive cidades históricas – e prover meios para sua recuperação e manutenção. Nesse sentido é preciso agir em duas frentes: recursos financeiros e humanos.
Os recursos do Tesouro e financiamentos públicos e privados existentes para o setor cultural, frutos de leis de incentivo, são insuficientes, as prioridades raramente incluem o Patrimônio e não passam de ações pontuais. É preciso avançar, elaborando um plano plurianual nacional, vinculado a um fundo próprio, que privilegie a eliminação de riscos de incêndios, desabamentos e alagamentos, garantindo o funcionamento e o usufruto público do Patrimônio.
São necessários também profissionais capacitados. Há anos assistimos, por exemplo, o definhamento do quadro técnico de órgãos como o IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), questão apenas recentemente encaminhada.
Cumprindo o compromisso histórico dos arquitetos e urbanistas com a preservação do Patrimônio, em “Carta Aberta dos Arquitetos e Urbanistas aos Candidatos nas Eleições de 2018”, divulgada em julho, o Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (CAU/BR) e o Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) apresentaram propostas que, a médio prazo, garantiriam a sustentabilidade da política pública para o setor.
Todos estamos indignados, todos devemos colaborar”.
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