A Caixa Cultural traz ao Recife – entre 13 de junho e 05 de agosto – a mostra O Tempo Dos Sonhos: Arte Aborígene Contemporânea da Austrália. A exposição é tratada pelo curador brasileiro Clay D´Paula como a mais vigorosa, significativa e diversificada coleção de obras de arte dos artistas aborígenes a visitar a América do Sul. Ele assina a curadoria com os australianos Adrian Newstead e Djon Mundine. As telas já passaram por São Paulo, Fortaleza, Rio de Janeiro, Brasília, Belo Horizonte e Curitiba. São mais de 40 obras, selecionadas por importância histórica.
O acervo traz nomes como Rover Thomas, Tommy Watson e Emily Kame Kngwarray, que já tiveram os seus trabalhos expostos no MoMA e Metropolitan, de Nova Iorque; Bienais como a de Veneza, São Paulo e Sidney, entre outros eventos de prestígio internacional, como o Documenta, em Kassel, e Art Basel (Miami, Basel e Hong Kong). “Essa coleção é um presente à população brasileira. Em um acervo de mais de três mil obras, selecionamos aquelas mais significativas. Muitas já foram publicadas em inúmeros catálogos de arte, citadas em teses de doutorado e exibidas em várias instituições de prestígio na Austrália, Europa e América do Norte”, ressalta Clay.
O público pernambucano vai encontrar peças que apresentam linguagem moderna e contemporânea, passeando pela pintura, escultura, litografia e bark paintings (pintura em entrecasca de eucalipto). Compõem o acervo obras da Coo-ee Art Gallery, a galeria mais antiga e respeitada em arte aborígene da Oceania. Peças de coleções privadas e instituições governamentais também atravessaram o oceano exclusivamente para esta exposição. Os trabalhos artísticos representam um período de 45 anos, desde o despertar da comercialização da arte aborígene contemporânea, na década de 1970, até o presente.
Outra novidade da mostra: além de circular pela América Latina e pelo Brasil pela primeira vez, a exposição também traz o primeiro catálogo publicado em português sobre a arte aborígene. Neste ramo movimenta-se cerca de 200 milhões de dólares por ano na Austrália. Estima-se que hoje mais de 7 mil artistas indígenas vivam de sua prática artística. “Nós, brasileiros, tivemos, até hoje, poucas oportunidades de conhecer todo esse universo da arte aborígene da Austrália, o que pode, inclusive, levar-nos a refletir sobre os povos indígenas de nosso país. O Brasil e a Austrália possuem muitas coisas em comum. Contribuir para aproximá-los e convidar ao diálogo é um dos objetivos dessa exposição”, justifica o curador brasileiro.
O que você encontrará neste post:
Arte Aborígene
Os artistas aborígenes pintam os seus sonhos (mas não a ideia Junguiana de sonhar e sua associação com o inconsciente). Para eles pintarem o seu “Sonhar” (dreaming, em inglês) implica recontar histórias que são atemporais a fim de mantê-las vivas e repassá-las a futuras gerações. Não se trata de algo religioso, mas ligado à sua própria sobrevivência. Essas pinturas contêm informações vitais, como, por exemplo, onde encontrar “água viva” permanente.
Manter o “sonhar” vivo é a motivação fundamental para a prática da arte dos artistas indígenas da Austrália.
Bark paintings
Os visitantes vão apreciar as bark paintings, pintura sobre entrecasca de eucalipto, típica do norte tropical da Austrália, região conhecida como Arnhem Land (A Terra de Arnhem). Essa é uma das formas de expressão artística mais antiga do mundo, com mais de 40 mil anos. Inicialmente, as bark paintings tinham uma pobreza estética muito grande porque não foram criadas para durar, mas sim para cerimônias ou decoração. Hoje, elas trazem uma execução primorosa, sendo consideradas como arte, não artefato, e estão em museus renomados, além de integrarem coleções particulares.
Destaque
A grande estrela da exposição é Emily Kame Kngwarray (1910-1996). Mulher, negra, que começou a pintar aos 79 anos de idade. Emily é considerada pela crítica uma das maiores pintoras expressionistas do século XX. Ela foi comparada a Pollock e Monet, entre outros expoentes que figuram nos livros da história da arte. Emily estará representada na mostra com a pintura “Sem título, 1992”. A artista tornou-se a mais querida da Austrália. Representou o país na Bienal de Veneza e em vários outros eventos de arte internacional. É importante ressaltar qu ela nunca teve acesso à arte ocidental, logo, enquadrar a sua pintura dentro de um movimento artístico europeu pode ser um equívoco. Ela que, sem falar uma palavra em inglês, já expôs lado a lado com Picasso, Kandinsky e Mondrian entre outros masters internacionais da arte. “Ou eles que expuseram com ela”, complementa Clay D´Paula.
O Tempo dos Sonhos: Arte Aborígene Contemporânea da Austrália
CAIXA Cultural Recife
Avenida Alfredo Lisboa, 505, Bairro do Recife, Recife – PE
13 de junho a 05 de agosto de 2018
Visitação: 14 de junho a 05 de agosto de 2018
terça-feira a sábado, das 10h às 20h | domingo, das 10h às 17h
Classificação indicativa: Livre
Entrada gratuita
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