O artista gráfico, pintor, cenógrafo, professor e crítico de arte Raul Córdula, comemora agora em 2023, oitenta anos de idade e 63 dedicados à arte. Preparamos um conteúdo especial, que mostra boa parte do percurso do artista natural de Campina Grande/PB, mas que encontrou em Olinda/PE, um lugar para viver e se dedicar aos trabalhos artísticos que vivencia.
O que você encontrará neste post:
O caminhar artístico de Raul Córdula
Raul Córdula começou a pintar em 1958 e já no ano seguinte foi o responsável por ilustrar poesias da Geração 59, um grupo de poetas paraibanos. Raul seguiu se aperfeiçoando e em 1960 deu início aos seus estudos no Instituto de Belas Artes e técnica em pintura no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro- MAM/RJ, onde foi aluno do famoso pintor e desenhista italiano Domenico Lazzarini.
Na sua caminhada foi supervisor do setor de artes plásticas da Universidade Federal da Paraíba, foi cenógrafo em várias emissoras de televisão, diretor do Museu de Arte Assis Chateaubriand de Campina Grande e da Casa de Cultura de Pernambuco. Tendo sido também coordenador do Núcleo de Arte Contemporânea da UFPB, onde também lecionou. Outro ponto de destaque da sua carreira foi assumir a coordenação da implantação do Salão MAM-Bahia e ter sido diretor de desenvolvimento artístico e cultural da Fundação Espaço Cultural da Paraíba- Funesc.
80 anos de idade e 63 dedicados à arte
“Eu comecei muito cedo. Quando criança, ao sair do Rio de Janeiro e retornar para Campina Grande no ano de 57, encontramos uma grande seca que ocorreu, e por lá comecei a desenhar o que eu via na rua. A feira, as casas pobres pelo caminho… Um ano depois fomos para João Pessoa, onde eu conheci os artistas da época e os poetas. Em 60, fiz minha primeira exposição individual na biblioteca pública do Estado da Paraíba, que é onde eu considero o meu início na arte”, conta Raul Córdula.
Campina Grande, João Pessoa, Rio de Janeiro, São Paulo, México, Argentina, Paris e Pirinéus (uma cordilheira no sudoeste da Europa), sertão da Paraíba, Recife e Olinda integram um conjunto de experiências vivenciadas por Raul ao longo dos seus oitenta anos. Experiências essas que desde sempre ele vem inserindo na sua arte.
O amor pelo fazer artístico
“Eu sou de uma geração de artistas. Vou explicar. Hoje no mundo se divide a arte em artes plásticas ou visuais e arte contemporânea. Quando eu coloco o meu amor pelo fazer artístico, é que eu sinto um prazer muito grande em simplesmente pintar. Um prazer que às vezes é muito duro, porque a gente sofre muito com a dificuldade de realizar a obra, de considerar aquilo pronto. Mas é nessa luta, nesse vai e vem, que está o prazer. É como uma guerra, pois sempre há uma batalha “. detalha Raul.
Eu nunca me considerei um artista com um olhar fora do lugar onde eu vivo”.
Raul Córdula
A geometria forte do artista
O uso de figuras geométricas, outra característica marcante nas peças de Córdula, mantém-se presente nas obras da exposição que celebra seus 80 anos. Os triângulos são elementos usados nas telas e desenhos, além de outras formas que ganham destaque em seu trabalho.
A exploração da geometria em seu trabalho é busca pela investigação do abstracionismo e virou um marco na arte contemporânea brasileira, indo do lado contrário a muitas coisas que eram produzidas na época. Raul ousa e explora como ninguém o uso das formas, mas também das cores. Tons fortes que se unem a outros para criar uma harmonia feita para proporcionar reflexões.
” Existe essa questão do artista geométrico ser comentado como o artista do decorativo, mas que mal há nisso? Mas não é somente isso, a geometria acontece em uma dimensão para quem a contempla. Uma dimensão universal. A geometria chegou na minha pintura pelas várias viagens que eu fazia entre João Pessoa e Campina Grande, subindo a Serra da Borborema e o ônibus subia e descia e eu ia vendo um triângulo equilátero no fim da estrada girando, como se fosse uma bússola. A partir daí gerou-se uma série de trabalhos meus onde o triângulo gira. São composições a partir disso. Não são apenas coisas bonitinhas de serem feitas, mas a minha arte, que é feita por uma necessidade fundamental de tornar essas visões em algo palpável, em algo real. É essa poética visual que eu tenho como razão da minha vida hoje, nesses oitenta anos”, sintetiza Raul sobre como se deu o início o uso da geometria no seu trabalho.
As premiações
- Salão Municipal de Belo Horizonte, menções honrosas em 1964 e 1965.
- Prêmio de desenho no Salão da Jovem Arte de Campinas SP- 1965
- 1 Salão de Arte Global de Pernambuco- Prêmio MEC- 1964.
- 2 Salão de Arte Global de Pernambuco- 1 Prêmio- Rede Globo 10 anos- Viagem à Europa- 1966.
- 1975- XXXVI Salão de Artes Plásticas de Pernambuco- 1 Prêmio -1975
- 2010- Prêmio Gonzaga Duque da Associação Brasileira de Críticos de Arte-ABCA, São Paulo.
- 2013- Prêmio Sérgio Milliet- Associação Brasileira de Críticos de Arte- com o livro ” Utopia do Olhar.
- 2009- Integrou a Comissão Técnica do Prêmio Bunge de Pintura, São Paulo- SP.
Raul, curador
” O que é um curador, se não a junção de um crítico com uma pessoa que conhece o mecanismo de uma exposição? A crítica de arte, a montagem de uma exposição e a curadoria , são quase uma coisa só. São consequências”, diz Raul Córdula.
A exposição comemorativa Espaço-Tempo, na Amparo 60
Abre nesta terça-feira (25), na galeria Amparo 60, a partir das 19h, a primeira exposição de 2023, Espaço-Tempo, que é uma retrospectiva do trabalho de Raul Córdula.
A exposição marca também o início das celebrações dos 25 anos da Amparo 60 comemorados este ano. “O ano de 2023 é super importante para a galeria. Estamos completando 25 anos de história e vamos comemorar isso ao longo dos próximos meses. Nesse clima festivo, achei mais do que justo e pertinente convidar Raul Córdula, esse grande artista paraibano, radicado no Recife há tanto tempo, para abrir nosso calendário, nessa mostra que é celebrativa de sua trajetória”, explica a galerista Lúcia Costa Santos.
Espaço-Tempo reúne trabalhos de várias fases de Raul Córdula, desde o início da década de 1960, até trabalhos mais recentes, feitos em 2023. A seleção foi feita pelo próprio artista. “São pinturas, gravuras, aquarelas sobre papel, guaches sobre papel. Meu trabalho começou na geração dos anos 1960, passou pelo abstracionismo e depois ela tornou-se mais geométrica, o que sigo fazendo até hoje”, diz o artista.
São mais de 20 obras que mostram o percurso do artista. Chama atenção também a obra Cuidado com este chão (1965), datada do período da ditadura militar, tendo a terra e as ligas camponesas como motes, e também a obra Sem título, de 1991, uma aquarela realizada durante temporada parisiense e Composição, obra desenvolvida este ano, que expressa a força cromática e geométrica que marcam o seu trabalho. Há ainda um catálogo virtual que foi montado com o recorte selecionado pelo artista e reúne, também, textos sobre sua poética assinados por diversos críticos de arte.
Serviço da exposição Espaço-Tempo
Visitação: De 26 de abril a 26 de maio de 2023
Segunda a sexta, das 10h às 19h Sábados das 10h às 15h
Galeria Amparo 60 – No 3º andar da Dona Santa (Rua Professor Eduardo Wanderley Filho, 187 – Boa Viagem, Recife – PE, 51020-170).