Texto escrito pelo paisagista Marcelo Kozmhinsky
A ideia não é nova. No século 19 eram comuns as cabanas feitas com teto coberto de gramíneas nos Estados Unidos. Na década de 1960, a Europa também adotou a moda. No entanto, somente há poucos anos ela começou a se espalhar e ganhar terreno nos grandes centros urbanos, ficando conhecida como “telhados verdes”, maior tendência da arquitetura contemporânea.
A discussão cresce no Recife, através do projeto de lei proposto pelo vereador Eurico Freire (PV). Segundo ele, o objetivo é atender à busca da população por uma resposta do poder público ao déficit causado pela emissão do gás carbônico no meio ambiente. “Através da Secretaria Municipal do Meio Ambiente chegamos a Eveline Labanca (do Instituto Pelópidas Silveira), onde tivemos todo o apoio necessário para a pesquisa. Nossa intenção é ajudar na diminuição das ilhas de calor e, também, na preservação de reservatórios de acúmulo ou retardo de água potável”, explica Eurico.
Eveline diz que a implantação dos telhados verdes já contribui para retenção e reuso da água das chuvas, baseada na legislação municipal que trata do “Enfrentamento das Mudanças Climáticas”. “Nos entusiasmamos com a ideia, que vem ao encontro de estudos feitos pela prefeitura. Se aprovado, o projeto fará com que os novos prédios já tenham as adequações às novas exigências. É pertinente repensarmos o aumento do calor, já que nossas pesquisas identificaram em algumas áreas uma elevação de até 13 graus na temperatura”, ressalta. Para Eveline, a iniciativa proporciona redução das ilhas de calor, menor acúmulo de água nas ruas (no período das chuvas), isolamento acústico, economia de energia e ar menos poluído.
A tendência se fortalece em todo o mundo. Na Alemanha, a cidade de Stutgard investe desde os anos 80 em cobertura vegetal, tornou-se referência internacional e conta com 60% de tetos verdes nas construções. No Brasil, Porto Alegre (RS) saiu na frente. Em 2013, aprovou projeto de lei, do vereador Marcelo Sgarbossa (PT), que altera o Código de Edificações da cidade, permitindo o uso de telhado verde sobre lajes e demais coberturas do último pavimento dos prédios.
De acordo com a proposta do vereador Eurico Freire, os projetos de edificações habitacionais multifamiliares com mais de quatro pavimentos e não-habitacionais com mais de 400 m² de área de coberta deverão prever a implantação do “Ecotelhado” para sua aprovação.
Ele defende que a ideia é melhorar o aspecto paisagístico da cidade, mas também diminuir as ilhas de calor. “Uma pesquisa da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) apontou, em março de 2013, o registro de até seis graus acima da temperatura média esperada para o mês. O que produz esse calor característico é, principalmente, a retirada da vegetação, além da impermeabilização do solo — resultado da construção de edifícios e da colocação do asfalto”, reforça.
Os telhados verdes são canteiros produzidos nas coberturas de residências e edifícios, através da impermeabilização e drenagem. Tradicionalmente, é feito em camadas. Próximo à base fica a membrana impermeável, para evitar que a água das chuvas penetre no telhado e provoque infiltrações ou vazamentos. Logo acima, a camada que vai armazenar parte dessa água, que será usada pelas próprias plantas. Em cima vem a camada de terra. Por último, a camada de plantas.
A manutenção é feita como a de um jardim convencional. Será preciso podar a grama, irrigar e adubar. É importante lembrar que não basta juntar um monte de terra e umas sementes e jogar no telhado. O primeiro passo é contratar um engenheiro que avalie a estrutura da obra, para saber se ela comporta o peso que será acrescentado lá em cima. Na implantação, um paisagista é ótimo aliado para imprimir beleza e funcionalidade.
A inserção de telhados verdes ainda não virou lei, mas vale ressaltar a importância de iniciativas já implantadas, como o Colégio Fazer Crescer, O Bar Central e O SOFTEX. Bem como o Empresarial Charles Darwin, da Construtora Rio Ave, onde será colocado um gramado sobre o edifício garagem, com cerca de 2,5 mil m², ainda em fase de projeto. Todos essas iniciativas podem e devem ser repetidas. A cidade e sua população agradecem.
O que você encontrará neste post:
4 Telhados verdes no Recife
1. Empresarial Charles Darwin Rio Ave
Este será o primeiro empreendimento da construtora a receber ecotelhado, aplicado na cobertura do edifício-garagem e nas marquises. Ao todo, o gramado tem cerca de 2,5 mil m², um dos maiores do Brasil, e conseguirá armazenar cerca de 75 mil litros de água, além de sequestrar 11 toneladas de CO² ao ano. O projeto é do paisagista Christoph Jung.
2. Fazer Crescer – EcoGreen
A guarita da Escola Fazer Crescer ganhou uma estrutura verde sobre a laje de 12 m². A iniciativa visa quatro aspectos: suavizar a vista da sala de computação, que fica bem em frente ao telhado; oferecer aspecto mais natural e aconchegante; diminuir as ilhas de calor, graças ao uso adequado da vegetação naquele trecho; e trabalhar a sustentabilidade como temática dentro da sala de aula.
3. Bar Central – Rai Plantas
Este telhado verde tem uma área de 50m² e recebeu suporte para grama e caixas para transportar frutas e hortaliças (ambos de polietileno), bem como de vasos de cerâmica de Tracunhaém. Além de contribuir com as questões ambientais, parte do que é produzido sai direto do telhado para a cozinha do restaurante. Por lá, são cultivados ervas e temperos, como sálvia, manjericão, orégano, alho-poró e pimentas, além de limão, laranja kikan e, brevemente, maracujá, que cercará toda a área superior da edificação.
4. Softex Recife – Rai Plantas
O prédio que abriga o Centro de Excelência em Tecnologia de Software do Recife abriga um telhado verde implantado em harmonia com a paisagem do centro da cidade. A vegetação apropriada à maresia e ao sol faz a combinação perfeita com o mobiliário de madeira distribuído numa área de 400m². A intenção é levar bem-estar à hora de lazer dos usuários, que podem contemplar a vista e o trabalho de paisagismo.
Vantagens dos Telhados Verdes
- Retenção da água das chuvas, minimizando enchentes
- Diminuição do efeito “ilha de calor”, e das temperaturas urbanas
- Absorção da poluição sonora
- Filtragem das partículas suspensas no ar, como a fuligem de combustíveis fósseis
- Criação de espaços verdes para o convívio da comunidade local
- Novas áreas para o cultivo de alimentos orgânicos, através de hortas e pomares
- Reciclagem dos gases tóxicos do ar através da fotossíntese
- Umidificação do ar nos meses secos, facilitando a respiração
- Abrigo da avifauna nativa, que ajuda também no controle de pragas urbanas como baratas e cupins
- Possibilidade de reutilizar a água da chuva ou irrigação, economizando recursos
- Aumento da durabilidade da impermeabilização com a estabilidade térmica da cobertura
- Economia na energia gasta para o ar-condicionado no último andar
- Possibilidade de aumentar as áreas com vegetação nativa regional e a biodiversidade